quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sobre Linguagem e Comunicação II

Continuando as investigações a respeito de linguagem, tomei conhecimento de algumas ideias trabalhadas pelo linguista e filósofo americano Noam CHOMSKY, famoso também por seu ativismo político (algo que espero poder comentar neste blog).

Em seu ensaio "Novos horizontes no estudo da linguagem e da mente" CHOMSKY apresenta a abordagem linguística dos princípios e parâmetros, a qual ele compara com uma rede fixa conectada a um quadro de interruptores. "A rede é constituída dos princípios da linguagem, enquanto os interruptores são as opções a ser determinadas pela experiência" (CHOMSKY, 2005, p. 37). Quando o conjunto de interruptores é acionado de uma determinada maneira, é possível expressar-se em inglês, quando em outra, em francês, em português, etc. Os conceitos, os enunciados a serem expressos tomam forma através dos diferentes conjuntos de parâmetros (interruptores).

Apesar dessa abordagem ter sua atenção voltada para o estudo linguístico, sobretudo o aprendizado de novas línguas, é possível traçar um paralelo interessante com a "linguagem artística". Os enunciados, os conteúdos a serem expressos se dariam  através da utilização de diferentes parâmetros expressivos artísticos: som, imagem, até mesmo palavras (quando considerados na sua forma subjetiva e não positiva). Seriam as diversas "línguas (ou linguagens) artísticas".

Mas antes, é preciso traçar um paralelo mais sólido entre a música e a linguagem para saber se é possível, afinal, considerarmos música como linguagem, como um tipo de linguagem ou não.

O filósofo mostra que a faculdade da linguagem está inserida em uma arquitetura mais ampla da mente/cérebro. Ela interage com outros sistemas que sejam capazes de "ler" as expressões da linguagem e usá-las como diretriz para o pensamento e a ação. Os sistemas sensoriais e motores, por exemplo, precisam ser capazes de ler as instruções relacionadas ao som, ou às representações fonéticas da linguagem. Da mesma forma, quando (re)conhecemos alguma obra musical, nossos sistemas sensorial e motor entram em ação na percepção dos estímulos sonoros mas com uma diferença conceitual: na linguagem, os signos, os fonemas são apenas os parâmetros, as ferramentas na construção da linguagem responsável por comunicar uma ideia ou expressar um conceito. Na música, é bastante difícil estabelecermos uma "finalidade" para os signos sonoros musicais: se funcionam em torno de uma significância extramusical (como no caso dos poemas sinfônicos, por exemplo) ou se o material sonoro é um fim em si mesmo. Como poderíamos pensar em um "discurso musical" (conceito já conhecido e amplamente pesquisado nas áreas de retórica musical e semiologia)?

Surgem aí dois problemas: O primeiro consiste na impossibilidade da música de comunicar algo desde que seus signos sonoros não possuem significados definidos. A interpretação musical se dá num nível abstrato e subjetivo, portanto, indireto. A música não teria, dessa forma, comunicação eficaz, mas teria diálogo assumindo que estruturas musicais podem carregar enunciados que dialogam com as demais vozes responsivas ativas. O segundo é que para reconhecer estruturas fraseológicas musicais, é necessário que o ouvinte seja "educado musicalmente", tenha conhecimentos teóricos sobre melodia, harmonia, motivo, material temático, etc. Em contrapartida, as estruturas semânticas são compreendidas, em grande parte, sem uma educação acadêmica direcionada. Uma criança brasileira de 10 anos pode compreender bem um vasto repertório de frases e palavras sem que tenha feito um estudo sistemático preliminar na área. A linguagem é uma faculdade inerente ao ser humano (CHOMSKY, 2005; CHAUÍ, 2000).

Em outra ocasião, continuarei o pensamento a esse respeito (tendo uma relativa ideia do tamanho do poço onde estamos entrando...)

Outra questão interessante apontada por CHOMSKY é a ambiguidade intrínseca no significado. "Suponhamos que uma biblioteca tenha duas cópias do Guerra e Paz de Tolstói e que Peter retire uma delas e John a outra. Peter e John retiraram o mesmo livro ou livros diferentes" (CHOSMKY, 2005, p. 48-9)? À primeira vista, uma pergunta falsamente simples, uma pergunta capciosa porque se levarmos em conta o fator material do item lexical (o objeto "livro") retiraram livros diferentes. Se focalizarmos o componente abstrato, o conteúdo, levaram o mesmo livro. Pensando em música, mais uma vez nos deparamos com a pergunta: a música traz um enunciado intrínseco ou os sons são um fim em si mesmos?

Depois continuamos com nossa busca para entender a linguagem...

Neylson Crepalde

Agradeço ao amigo Felipe Massote pela brilhante sugestão do Chomsky. Estou me deliciando com a leitura de sua obra.

Agradeço também ao amigo Maestro Arnon Sávio pela lembrança do livro do Maestro Magnani. Esta obra tem uma parte inicial interessantíssima sobre estética.

Dicas de Leitura


CHOMSKY, Noam. Novos Horizonte no estudo da linguagem e da mente. Tradução Marco Antônio Sant´Anna. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. Disponível em http://www.fag.edu.br/professores/bau/FAG%202012/Fonoudiologia%20Filosofia/Livro%20Convite%20A%20FILOSOFIA%20CHAUI.pdf

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