segunda-feira, 4 de junho de 2012

Economia da Cultura - Resenha

Olá amigos. Apresento minha resenha sobre o livro "Economia da Cultura".


Aspectos conceituais e metodológicos de uma abordagem econômica da insdústria cultural – José Osvaldo Guimarães Lasmar

Neylson J. B. F. Crepalde

O autor inicia o texto problematizando a questão da abordagem das manifestações culturais. Segundo Lasmar, apesar das dificuldades, essas manifestações culturais devem ser examinadas e trabalhadas no seu aspecto econômico. A literatura sobre o assunto é escassa e a abordagem, segundo nos conta o autor no final do capítulo, é tendenciosa de modo que faz juízo de valores ao invés de apenas analisar a realidade.

O autor segue apresentando o conceito de industrialização da cultura, dos produtos culturais, e a hierarquização da cultura com a divisão entre “cultura superior” e “cultura inferior”. Lasmar aponta ainda a maleabilidade dos produtos culturais e ainda que esses produtos são construídos socialmente conforme os demais produtos do capitalismo. A saber, os produtos sofrem os efeitos e ao mesmo tempo influenciam a formação social além de serem produzidos em série através da divisão social do trabalho para consumo em larga escala. Ao produto deste fenômeno de industrialização da cultura, Edgar Morin chama de “terceira cultura, oriunda do cinema, da televisão, do rádio e da imprensa, que se desenvolve ao lado das culturas clássicas (religiosas e humanistas) e nacionais” (apud LASMAR, 1988, p. 14). O estudo da economia da cultura requer, desse modo, um olhar na dinâmica interna da indústria cultural.

Lasmar divide a indústria cultural em “indústrias de informação” e “indústrias de mensagem”. As indústrias de informação seriam caracterizadas pelos seus produtos altamente perecíveis, pela concentração e concorrência em mercados duplos (mercado de consumidores primários, leitores, ouvintes e espectadores, e mercado de consumidores secundários, os anunciantes) e pelas diversas barreiras ao ingresso. Já as indústrias de mensagem seriam as indústrias dos livros, fonográfica e cinematográfica. Nesses casos, os produtos culturais seriam analisados nas suas fases de criação, edição-reprodução, reprodução-fabricação, distribuição e comercialização.

Sobre as dimensões econômicas da produção cultural de massa, Lasmar aponta que a indústria cultural funciona no “modelo de crescimento econômico baseado na expansão de bens de consumo duráveis” (LASMAR, 1988, p. 21). Além disso, indica duas funções básicas da indústria: “ampliar o mercado de bens de consumo e fazer passar como universais os valores das classes dominantes” (ibidem). Para cumprir esta função, a indústria cultural “se orienta por critérios de lucratividade, destinando sua produção às camadas de maior poder aquisitivo” (ibidem).

Lasmar defende a atuação da indústria cultural declarando que a mesma “potencia a acumulação de capital, sobretudo no departamento produtor de bens de consumo” (LASMAR, 1988, p. 22). Ele define cultura industrializada como a produção cultural organizada e gerida de acordo com as leis gerais de mercado (produção e circulação de mercadorias).

Não obstante, é partindo do caráter empresarial, ou, se preferir, capitalista, da produção cultural de massa que se pode compreender por que a função primeira da indústria cultural no capitalismo contemporâneo não é a de alargar mercados para a indústria de bens de consumo, mas sim, contituir, ela própria, uma frente de acumulação e valorização do capital. Os rumos da indústria cultural brasileira só podem ser precisados a partir dessa constatação. (LASMAR, 1988, p. 23)

O autor expõe a indústria cultural como uma economia independente e autônoma, não agindo em suporte a produtos diversos, mas tendo uma movimentação econômica própria e bastante expressiva. A partir da segunda metade dos anos 60, a televisão integra, comenta Lasmar, o conjunto da indústria cultural brasileira conferindo-lhe a unidade que hoje apresenta.

O autor considera a função ideológica de universalizar os valores das classes sociais hegemônicas por causa das implicações decorrentes nos países periféricos. Do contrário, para o autor, essa questão não teria para nós interesse. Ele aponta que a indústria cultural é “instrumentalizada como veículo de dominação pelo capitalismo central” (LASMAR, 1988, p. 24) sobre os países periféricos. Entretanto, Lasmar argumenta que existe aí uma contradição, visto que,

De outro modo não se poderia esperar que a indústria cultural se engajasse na publicação e venda da obra de Marx e Lenin em bancas de jornais, ou ainda, que fosse possível a associação com capitais estrageiros da indústria cinematográfica para produção e distribuição de filmes nacionais de conteúdo marcadamente político e social. (LASMAR, 1988, p. 25)

Sobre a concentração do capital na indústria cultural, Lasmar aponta que se deve às condições técnicas de produção que integram o setor e às “possibilidades crescentes de transformação da indústria cultural em espaço de investimentos” (LASMAR, 1988, p. 26).

Na indústria cultural brasileira são apontados mercados supostamente restritos. O autor comenta que o padrão de crescimento da indústria obedece à logica do modelo excludente e concentrador de renda da produção de bens de consumo duráveis. Lasmar comenta que, dos anos 30 até os anos 50, os setores que guiavam a economia brasileira eram o setor de bens de consumo assalariado e o setor leve de bens de produção. Já a partir dos anos 50, há uma transição em que as políticas desenvolvimentistas estabelecerão um novo padrão de acumulação movido pelos produtos de bens de capital e bens de consumo duráveis.

A ruptura do “modelo articulado de desenvolvimento”, a implantação de um padrão de crescimento baseado na produção de bens de consumo duráveis, na concentração de renda e na internacionalização da economia, integram, portanto, uma mesma trama. (LASMAR, 1988, p. 29)

Lasmar interpreta características fundamentais da indústria cultural em comparação com o modelo de crescimento dos bens duráveis de consumo de modo que “a perversa estrutura de distribuição de renda seria funcional e compatível com a ‘elitização’ da produção cultural no Brasil” (ibidem). Esse modelo também privilegia a dependência tecnológica e a importação de produtos culturais e associa-se a uma internacionalização da cultura brasileira.

O autor critica o estudo dos problemas relacionados à organização e evolução dos mercados culturais por terem sido tratados de forma imediatista. Para Lasmar, o desenvolvimento da indústria cultural será balizado pelas possibilidades reais de acesso das diversas classes sociais à fruição dos bens culturais.

Lasmar aponta que a função ideológica (citada supra) da indústria cultural tem sido considerada com maior ênfase em detrimento de suas implicações de dependência econômica em países periféricos. Para o autor, o produto cria o consumidor, cria a sua própria demanda e seu próprio mercado fabricando culturas para consumirem bens e serviços. Lasmar cita o exemplo de Hollywood como exportador de produtos americanos e declara que essa exportação se dá mediante duas condições: “a preservação da dependência [e] a instalação, na sociedade receptora, de uma demanda artificial voltada para o consumo de bens e serviços elaborados no exterior” (LASMAR, 1988, p. 33). Contudo, somente essa abordagem é insuficiente para o autor porque simplificaria as diversas formas de inserção de países periféricos na economia internacional e ainda “porque estamos menos interessados nas funções de dominação exercidas pela cultura de massa no âmbito das relações centro-periferia do que nos constrangimentos impostos pela situação de dependência ao pleno desenvolvimento da indústria cultural brasileira” (ibidem). Este desenvolvimento depende de alguns fatores de crescimento como a consolidação de uma base técnico-científica, maior articulação interna do seu aparelho produtivo e a formação de um grande mercado consumidor.

Sobre a integração do Brasil no mercado econômico cultural internacional, Lasmar comenta que esta acontece de duas formas: a primeira seria a integração de tipo comercial que faz do Brasil um mercado consumidor de produtos elaborados nos países centrais. A segunda seria a integração de tipo produtiva, consistente na produção interna de determinados produtos culturais.

Lasmar aponta a importância da comunicação de massa e das indústrias culturais na construção de políticas culturais:

Por se tratar de um fenômeno até então relativamente recente, ou por terem sido quase sempre abordados a partir de rígidas posturas ideológicas mais preocupadas em condená-los do que em analisá-los, a importância dos meios de comunicação de massa e das indústrias culturais na construção das políticas culturais não pode ser percebida de imediato. Entre as primeiras reações “nacionalistas” e as experiências atuais de planejamento da produção cultural de massa, as intervenções públicas no setor estiveram permeadas por medidas simplesmente “reativas” face à constatação de problemas crescentes na produção e na realização dos produtos culturais nacionais. A perda de mercado pelos produtores locais responde-se com mais subsídios à produção ou ao consumo dos bens culturais, atingindo-se, em alguns casos, até mesmo a estatização pura e simples da sua produção, da sua distribuição ou do seu financiamento. (LASMAR, 1988, p. 38)

Para o autor, as análises da funcionalidade da indústria cultural no crescimento do país parecem desconsiderar qualquer tipo de intervenção pública. Estas intervenções seriam necessárias, ao contrário do que comumente se espera do Estado: que apenas financie e policie. Sobre essa questão, Lasmar aponta dois aspectos: primeiro, o fato de que produtividade econômica e “produtividade política” andam no seio das indústrias culturais de maneira contraditória. Segundo, que a indústria cultural caminhará para sua autonomia de acordo com o aumento das possibilidades de consolidar seus mercados e deles apenas depender para operar e crescer.

Concluindo, Lasmar defende que, pela força e expressividade econômica que tem, a indústria cultural não pode ser mais ignorada devendo ser considerado o seu papel e o seu lugar na construção de políticas culturais. O autor declara ainda que já não são mais cabíveis as caracterizações redutivas feitas pela Escola de Frankfurt.

REFERÊNCIAS
LASMAR, José Osvaldo Guimarães. Aspectos conceituais e metodológicos de uma abordagem econômica da indústria cultural. In: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Economia da Cultura: reflexões sobre as indústrias culturais no Brasil. Brasília, Instituto de Promoção Cultural/Secretaria de Apoio à Produção Cultural – Ministério da Cultura. 1988, 69p.


Neylson J. B. F. Crepalde é graduado em Regência pela UFMG (2010) e especializando em Gestão Cultural pelo Centro Universitário UNA (Belo Horizonte, MG). Apresentou-se como maestro convidado com a Orquestra Sinfônica de MG em 2010 na série Concertos no Parque. Apresentou-se no concerto de encerramento do I Laboratório de Regência da Orquestra Filarmônica de MG em 2009. Apresentou à frente da Orquestra sinfônica de Barra Mansa em concerto na Igreja da Sé em Olinda, PE em 2010. Atualmente é professor substituto da Escola de Música da UFMG na área de Regência.

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